Muitos dos peregrinos que fam o Caminho de Santiago nom se contentam em chegar só á capital da Galiza e ver a sua extraordinária catedral, senom que continuam o caminho cara o mar. 

Em realidade, existe uma peregrinaçom pagã que remonta a tempos anteriores ao Cristianismo e, consequentemente, à construçom da catedral após a descoberta dum "suposto" túmulo do Apóstolo Santiago.

As sociedades celtas galáicas faziam a peregrinaçom ao mar para curar almas enquanto estavam vivas, antes de morrer, ou como um sacrifício para demonstrar arrependimento por algo errado. Um desses enclaves era Fisterra, (Finis Terrae) chamado assim pelos romanos que pensavam que aquilo era o fim da Terra. 

Essas peregrinações também ocorreram em outros Finisterres da cultura celta atlântica, como os da Irlanda ou Bretanha, mas também havia outros lugares santuário onde havia pedras sagradas (as famosas pedras de abalar ou mecedoiras).

Essas pedras sagradas existiam em territórios da cultura atlântica celta, como a Cornualha (The Logan Rock). E também existem muitos lugares de culto desse estilo na Galiza, um dos mais famosos é Mugia, com a sua mecedoira e o santuário da Virgem da Barca. Aqui, hoje, muitos peregrinos terminam o seu Caminho.

Muitos desses antigos santuários celtas foram posteriormente cristianizados, com capelas sendo construídas nesses locais, como é o caso em Muxía. O mesmo aconteceu com muitos cruzeiros, que antes de serem cristianizados nom tinham a cruz, mas já existiam para marcar encruzilhadas.

Durante as eras glaciais na Europa, a Galiza permaneceu como um refúgio climático, o que facilitou o assentamento de populações sedentárias que praticavam agricultura e pecuária, e de grupos de caçadores e coletores nômades. Por isso, abundam os vestígios arqueológicos da era megalítica, como as antas ou dolmens.

Essas populações que viviam ao longo de toda a costa atlântica da Península Ibérica (Galiza e Portugal), segundo os romanos eram os oestrimnios (habitantes do extremo oeste). É possível que uma parte dos oestrimnios tivesse vindo do Norte da África e que fossem parentes dos mauri (mouros), um povo berbere cujo nome significa em sua língua: "habitantes da terra". Os romanos chamaram toda a costa norte-africana de Mauritânia.

Segundo a mitologia romana, Oestrimnia foi invadida por uma tribo de saefes (um povo celta que tinha a serpente como animal sagrado), e foi chamada de Ophiusa (o país das serpentes). Presume-se que os saefes foram os primeiros colonizadores celtas que chegaram à Galiza entrando pelo norte da península. Os povos celtas eram sociedades migrantes de origem indo-européia (como muitas das línguas atuais da Europa) e expandiram-se em várias ondas por todo o continente.

Segundo a mitologia celta, o rei Breogám veio para a Galiza da antiga Cítia através do Mediterrâneo, cruzando as "Colunas de Breogám" (ou "Colunas de Hércules" segundo gregos e romanos) e fundando Brigantia (hoje Coruña). Lá ele ordenou a construçom de uma grande torre da qual seu filho Ith pudesse ver ao longe um terreno que ele quis invadir e que seus descendentes conseguiram conquistar. Essa terra acabou por ser a Irlanda. A Torre de Breogám foi destruída e posteriormente reconstruída como torre-faro pelos romanos, e rebatizada na Idade Média com o nome de Torre de Hércules e que hoje pode ser vista na cidade de A Coruña.

Existem historiadores irlandeses e galegos que defendem que a Galiza é o berço da cultura celta atlântica, porque esses povos celtas que se estabeleceram no noroeste da Península Ibérica, mais tarde chegaram aos Finisterres da Irlanda, País de Gales, Escócia ou Grã-Bretanha... lugares onde os vestígios de sua cultura duraram mais: palavras, nomes de lugares, lendas, vestígios arqueológicos, costumes e celebrações ainda perduram sob a denominaçom cristã posterior.

Na verdade, da língua dos galaicos existem muitas palavras e raízes na língua galega atual que guarda semelhanças com outras línguas celtas como o gaélico. Só na província de Pontevedra existem mais de 50 topônimos relacionados com a cultura galaica, e a cidade de Lugo leva o nome do deus Lugh (o deus do Sol da mitologia celta).

Os geógrafos gregos batizaram os galaicos em homenagem ao território em que viviam: kallaikoi, que significa "habitantes das montanhas". Um nome semelhante ao de outros povos celtas também nomeados por gregos e romanos como os gauleses, os gálatas ou os gaélicos, que mantiveram características culturais comuns.

Os celtas galaicos, ao contrário dos oestrimnios, viviam na cima das montanhas em povoações fortificadas chamadas "castros". Estas construções tinham a mesma tipologia, eram conjuntos murados de casas circulares de pedra. Sendo povos que trabalhavam a pedra, ao se encontrarem com outeiros ricos em afloramentos graníticos por toda a Galiza, neles se estabeleceram.

Estes assentamentos também som abundantes no Norte de Portugal e nas Astúrias. Mas só na Galiza existem cerca de 3.000 inventariados, embora apenas menos de 1% sejam castros escavados que podem ser visitados. Esta figura é importante considerando a superfície pouco extensa do território galego.

Tal como acontece com nossas cidades atuais, havia castros grandes e pequenos. Algumas eram de grande extensom, como o de Vigo ou o de Sam Cibrão de Lás (Lánsbriga ou Lámbrica), e estavam ligadas a outras mais pequenas, formando uma espectacular rede de castros em todo o território. Mantinham também um estilo ordenado, com as casas circundando um recinto central, a croa onde se faziam as reuniões, oferendas, etc... e continuando a descer o monte ficavam as zonas de horta e pastagens para os animais.

Durante a Idade do Bronze e a Idade do Ferro, os castros mineiros também tiveram especial relevância, visto que a Galiza possuía importantes reservas de estanho e ferro. Além disso, os castros costeiros eram fundamentais para o abastecimento de produtos da pesca e também para o comércio com outros povos atlânticos e mediterrânicos, como os fenícios, que também construíram portos na costa galega. Naquela época, o transporte marítimo era mais fácil e menos demorado do que o terrestre. A sociedade celta galaica era toda ela uma civilizaçom.

Castro de Baroña Galicia
Castro de Baronha